Educação

Os resquícios do Magistério

Curso integrado ao Ensino Médio tem baixa procura e vê o perfil dos estudantes mudar nas últimas décadas

Gabriel Huth -

Aqueles que entram para o Magistério são os sonhadores. A frase é de Guilherme Crizel, 19, formando no curso Normal (também conhecido como Magistério de 1º Grau) do Colégio Municipal Pelotense. A preparação, antes voltada quase exclusivamente às meninas, não é mais tão procurada como no passado. Dos 30 alunos que entram em cada turma de primeiro ano, apenas 20% se formam. Estes precisam, ainda, complementar os estudos com uma faculdade para estarem aptos a trabalhar nas redes estadual e municipal de ensino.

Em Pelotas, só o Instituto Estadual de Educação Assis Brasil (IEEAB) e o Colégio Municipal Pelotense (CMP) oferecem o curso. Integrado ao Ensino Médio, contempla estudos sobre as disciplinas vistas na modalidade regular e aulas específicas à formação do professor, como didática, educação inclusiva e psicologia da educação. No Assis Brasil, tem a duração de três anos e meio, enquanto no Pelotense são quatro anos e meio. O semestre final é dedicado ao estágio.

Foi confundindo a modalidade Normal com a Regular que Guilherme ingressou no curso. Dias depois de solicitar a matrícula para o Ensino Médio Normal pensando ser o Regular, recebeu uma ligação da escola avisando que havia uma vaga para ele. Foi nesse momento que ele ficou sabendo a diferença entre os dois tipos de ensino. Como já pensava em cursar licenciatura em História na faculdade, decidiu manter-se no Normal. "Se eu não gostasse, pediria transferência para o Regular", conta. É com este pensamento que muitos alunos ingressam no magistério. Hoje, o curso é visto como uma porta de entrada para o Ensino Médio no Colégio Pelotense, que abre pouquíssimas vagas para alunos oriundos de outras escolas.

Evasão é alta
Em 2015, 43% dos aprovados no primeiro ano do curso Normal preferiram migrar para o Regular. Quanto aos reprovados, metade abandonou o Magistério. Na turma de Guilherme, havia 30 alunos no primeiro ano. Na última etapa, sobraram quatro. O nível de dificuldade do curso e a não identificação com a profissão são os principais motivos da evasão. Outra explicação para o fenômeno é a falta de mercado de trabalho. Em Pelotas, a rede municipal de ensino só aceita professores graduados em Pedagogia para lecionar em turmas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano). Outras cidades da região, como Rio Grande, São Lourenço do Sul, Piratini e Canguçu, ainda contratam graduados no Magistério. Escolas particulares acabam sendo a opção de trabalho para esses profissionais.

O perfil dos normalistas mudou muito nas últimas décadas. Se antes o curso era praticamente exclusivo para meninas, que viam na profissão uma chance de ingressar no mercado de trabalho, hoje os meninos se mostram presentes, mesmo que timidamente. No Assis Brasil, são quatro homens frente a mais de 120 mulheres. Conforme Maria do Carmo Balado, professora da escola, a maioria dos estudantes é da periferia da cidade e não fez o Ensino Fundamental no mesmo colégio. Este último fator se repete no Pelotense, segundo Patrícia Fassbender, professora do colégio.

No futuro, Guilherme Crizel espera ser professor de Geografia. Como já está se formando no Magistério - falta só a nota relativa ao estágio - pôde ingressar no curso no início do ano e já concluiu o primeiro semestre. Apesar de precisar complementar sua formação para poder lecionar, diz não se arrepender de ter feito o curso Normal e, se pudesse voltar no tempo, faria a mesma escolha. Para ele, a maior qualidade do curso é a abertura dada pelos professores aos debates. "Não é só teoria. Somos preparados para enfrentar a realidade", ressalta. Em relação à faculdade, sente-se muito mais preparado e à vontade nas aulas em comparação com os colegas que não cursaram o Magistério. Quando questionado sobre o perfil dos jovens que persistem no Magistério e o concluem, não tem dúvidas: "São pessoas que sonham com um futuro melhor para toda a sociedade".

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